sábado, 23 de fevereiro de 2013
Chico Alencar PSOL-RJ no Seminário Nacional: Defensoria Pública e a Lei de Responsabilidade Fiscal
Dep. Federal Chico Alencar, PSOL, apoia e defende a luta dos trabalhadores sem Teto (MTST) e parabeniza a defensoria publica pelo seu brilhante trabalho frente aos interesses da população, principalmente as mais carentes. Meus parabéns Chico Alencar, só se constrói mudanças através das lutas!!!
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Movimento de Trabalhadores Sem Teto (DF) Nota de esclarecimento
Movimento de Trabalhadores Sem Teto (DF)
Nota de esclarecimento
Com o objetivo de esclarecer alguns fatos que envolvem a ocupação Novo Pinheirinho em Taguatinga, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto vem a público informar que:
1) Apesar de em nota o Governo do Distrito Federal afirmar seu compromisso com o diálogo permanente junto aos movimentos sociais, no decorrer de 47 dias de ocupação o GDF se dispôs a fazer apenas uma reunião com o Movimento, na qual não ofereceu nenhuma proposta além da mesma promessa que não foi cumprida desde a ocupação realizada pelo movimento no ano passado, em Ceilândia.
2) Sob ameaça real de despejo violento pela polícia e com o objetivo de articular um desfecho pacífico para o conflito, o MTST iniciou uma campanha pública solicitando a participação do Governo do Distrito Federal nas negociações, nas quais fossem garantidas conquistas reais para as famílias acampadas no prédio abandonado. Somente após a pressão de apoiadores, artistas e autoridades sensíveis à causa das famílias Sem Teto, o GDF aceitou sentar à mesa de negociação com o Movimento.
3) Em sua nota, o Governo do Distrito Federal dá a entender que o MTST não teria aproveitado as oportunidades abertas para que nossa entidade fosse cadastrada no Programa Habitacional do Governo, mas omite o fato de que, segundo explicação do próprio Governo, os documentos do Movimento teriam sido perdidos por seus servidores no trâmite do processo, o que, de fato, impossibilitou que em mais de um ano de tentativas a entidade fosse cadastrada.
4) Ao longo desses 47 dias de ocupação, o MTST convidou e esteve aberto para receber os agentes das diversas secretarias do Governo do Distrito Federal para encontrar soluções para o problema de falta de moradia das famílias. Apesar da abertura, o Governo não visitou o local. Agora, sem ter feito qualquer proposta concreta para o Movimento e às vésperas de uma operação policial programada para despejar as mais de 400 famílias acampadas, o Governo exige entrar no local. Por entendermos que a visita não terá nenhum efeito prático sem que hajam sido apresentadas propostas concretas para a resolução do problema, nos comprometemos a receber os agentes do Governo assim que as negociações forem reabertas e as demandas atendidas.
Por fim, o MTST reitera sua total disposição em encontrar solução pacífica e efetiva para as famílias. A solução, no entanto, depende do Governo. Nossa luta é pelo direito à moradia. Resistiremos se preciso for.
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
http://www.mtst.org/index.php/noticias/960-nota-de-esclarecimento-do-mtstdf.html
Nota de esclarecimento
Com o objetivo de esclarecer alguns fatos que envolvem a ocupação Novo Pinheirinho em Taguatinga, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto vem a público informar que:
1) Apesar de em nota o Governo do Distrito Federal afirmar seu compromisso com o diálogo permanente junto aos movimentos sociais, no decorrer de 47 dias de ocupação o GDF se dispôs a fazer apenas uma reunião com o Movimento, na qual não ofereceu nenhuma proposta além da mesma promessa que não foi cumprida desde a ocupação realizada pelo movimento no ano passado, em Ceilândia.
2) Sob ameaça real de despejo violento pela polícia e com o objetivo de articular um desfecho pacífico para o conflito, o MTST iniciou uma campanha pública solicitando a participação do Governo do Distrito Federal nas negociações, nas quais fossem garantidas conquistas reais para as famílias acampadas no prédio abandonado. Somente após a pressão de apoiadores, artistas e autoridades sensíveis à causa das famílias Sem Teto, o GDF aceitou sentar à mesa de negociação com o Movimento.
3) Em sua nota, o Governo do Distrito Federal dá a entender que o MTST não teria aproveitado as oportunidades abertas para que nossa entidade fosse cadastrada no Programa Habitacional do Governo, mas omite o fato de que, segundo explicação do próprio Governo, os documentos do Movimento teriam sido perdidos por seus servidores no trâmite do processo, o que, de fato, impossibilitou que em mais de um ano de tentativas a entidade fosse cadastrada.
4) Ao longo desses 47 dias de ocupação, o MTST convidou e esteve aberto para receber os agentes das diversas secretarias do Governo do Distrito Federal para encontrar soluções para o problema de falta de moradia das famílias. Apesar da abertura, o Governo não visitou o local. Agora, sem ter feito qualquer proposta concreta para o Movimento e às vésperas de uma operação policial programada para despejar as mais de 400 famílias acampadas, o Governo exige entrar no local. Por entendermos que a visita não terá nenhum efeito prático sem que hajam sido apresentadas propostas concretas para a resolução do problema, nos comprometemos a receber os agentes do Governo assim que as negociações forem reabertas e as demandas atendidas.
Por fim, o MTST reitera sua total disposição em encontrar solução pacífica e efetiva para as famílias. A solução, no entanto, depende do Governo. Nossa luta é pelo direito à moradia. Resistiremos se preciso for.
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
http://www.mtst.org/index.php/noticias/960-nota-de-esclarecimento-do-mtstdf.html
OCUPAÇÃO NOVO PINHEIRINHO DE BRASÍLIA SE PREPARA PARA RESISTÊNCIA!
Assembléia do Acampamento decidiu não sair do imóvel ocupado e resistir ao despejo de amanhã. GDF não negocia e será responsável caso ocorra um novo massacre.
Neste domingo, 17/2, a Ocupação Novo Pinheirinho em Taguatinga (DF) decidiu não deixar o imóvel ocupado, cuja ação de despejo está marcada para amanhã. Após esgotarmos todas as tentativas de negociação com o GDF, ficou claro que o Governo Agnelo (PT) aposta no confronto e na repressão aos trabalhadores que lutam.
Porém, ao contrário de situações anteriores, onde recuamos do enfrentamento por haver alguma alternativa proposta às famílias sem-teto, agora não resta outra alternativa ao MTST do que permanecer no terreno até as últimas consequências.
Não proporemos às centenas de trabalhadores, pais e mães de família, levarem seus filhos para debaixo de pontes. Muitas destas famílias chegaram a receber, por mobilizações anteriores, auxílio emergencial do GDF, mas o Governo cortou o pagamento, deixando as famílias sem alternativa.
O GDF demonstra-se incapaz de cumprir os compromissos que estabelece com o movimento popular. Nem mesmo o cadastramento de nossa entidade e a aprovação de uma lei distrital de bolsa aluguel foram garantidos por este Governo.
Por isso, quaisquer atos de repressão, violações de direitos humanos e - no limite - derramamento de sangue que ocorrer na tentativa de despejo da ocupação em Taguatinga terá um único responsável: O Governo Agnelo Queiroz.
Permaneceremos até o último instante abertos as negociações e esperamos ainda que se possa viabilizar uma solução negociada para o caso.
Coordenação Nacional do MTST
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
domingo, 3 de fevereiro de 2013
CRONICA - O julgamento de Lampião
O
JULGAMENTO DE LAMPIÃO
Divagações entre o real e a utopia
Gerivaldo Alves Neiva, Juiz de Direito
Bezouro, Moderno,
Ezequiel,
Candeeiro, Seca Preta, Labareda,
Azulão!
Arvoredo, Quina-Quina, Bananeira,
Sabonete,
Catingueira, Limoeiro, Lamparina, Mergulhão,
Corisco!
Volta Seca, Jararaca, Cajarana,
Viriato,
Gitirana, Moita-Brava, Meia-Noite,
Zambelê!
Quando degolaram minha cabeça
passei mais de dois minutos
vendo o meu corpo
tremendo
E não sabia o que
fazer
Morrer, viver, morrer,
viver!
(Sangue de Bairro, de Chico
Science)
Virgulino Ferreira da Silva, pelo povo também conhecido como
“Lampião”, foi preso em flagrante pela “volante” do Tenente
Bezerra e apresentado a este Juízo na forma da ilustração de autoria do
cartunista @CarlosLatuff.
Esta é uma decisão, portanto, que navega entre o virtual e o real, o
passado e o presente, entre o possível e o impossível, permeada de utopia, sonho
e esperança... O que se verá, por fim, é a evidência da contradição, não
insolúvel, entre o Direito e a Justiça. Quem viver,
verá.
Inicialmente, registro que não costumo me dirigir aos acusados por
“alcunhas”, “vulgos” ou apelidos. Aqui, todos tem nome, pois ter
um nome significa, no mínimo, o começo para ser cidadão e detentor de garantias
fundamentais previstas na Constituição brasileira. Neste caso, no entanto, abro
uma exceção para me dirigir ao acusado Virgulino Ferreira da Silva apenas como
“Lampião”, pois creio que assim o fazendo não lhe falto com o devido
respeito. Ao contrário, faço valer, ao tratá-lo como “Lampião”, a mesma
reverência que lhe dedica o povo pobre e excluído do sertão
brasileiro.
Em seguida, devo observar que a responsabilidade de julgar
“Lampião” é tamanha e me assombra. De outro lado, não aceito como
“divino” o papel de julgar. Deixemos Deus com seus problemas. Julgar
homens é tarefa de homens. Da mesma forma, tenho comigo que realizar a Justiça é
tarefa do homem na história. Assim sendo, passo a julgar “Lampião” como
tarefa essencialmente humana e com o sentido de que, ao julgar, o Juiz também
pode contribuir com a realização da Justiça ou, na pior das hipóteses, ao menos
não impedir que o povo realize sua história com Justiça.
Pois bem, consta dos autos que “Lampião” teria sido preso em
flagrante sob acusação de formação de quadrilha para a prática de inúmeros
crimes contra a vida, contra o patrimônio e contra os costumes. Consta ainda dos
autos os depoimentos dos condutores – membros da “volante” do Tenente
Bezerra - e a representação da autoridade policial pela decretação da prisão
preventiva do acusado, sob argumento da “garantia da ordem pública.”
Ao estrito exame das provas apresentadas, por conseguinte, e do que
dispõe a lei, parece pacífica a necessidade da segregação preventiva do acusado
para garantia da ordem pública, visto que restou provado, em face dos
depoimentos colhidos, que o acusado, de fato, representa grave perigo à harmonia
e paz social. Isto é o que se depreende do que se apurou até então e do que
consta dos autos. Imperativo, por fim, que se decrete a prisão preventiva do
acusado, segregando-o do meio social.
...................
Antes de concluir a decisão com a terminologia própria, o tal
“expeça-se o mandado de prisão, publique-se, intime-se, cumpra-se...”,
recosto a cabeça na cadeira, ajeito o corpo, fecho os olhos e ponho-me a pensar
quantas vezes já decidi dessa maneira, quantas vezes já decretei prisões
preventivas por motivo de garantia da ordem pública...
De súbito, enquanto pensava, eis que “Lampião”, o próprio,
saltitando feito uma guariba, pula da gravura do @CarlosLatuff e invade minha
mente. É virtual, mas é como se fosse também real e humano na minha frente.
“Parabellum” em uma mão e o punhal de prata, cabo cravejado de
brilhantes, em outra. Não tenho medo e nem me assusto. Ele também não diz nada e
agora apenas me olha e circula em torno de mim. Somos pessoas e ao mesmo tempo
ideias e pensamentos. O texto final da minha decisão judicial, por exemplo,
fazendo referência à garantia da “ordem pública”, é como se fosse também
algo concreto nesta cena, como um pássaro rondando minha cabeça. De repente, com
um tiro certeiro de “Parabellum”, “Lampião” esfacela esta forma de
pensar, que me ronda feito um pássaro, como se matando este meu “senso comum
teórico dos juristas”, conforme denuncia Warat. Em seguida, ainda atônito e
sem mais pensamentos para me agarrar, sinto uma profunda punhalada no coração,
mas não sinto dor alguma. Não sangro sangue, mas vejo jorrando do meu peito
todos os meus medos de pensar criticamente o mundo em que vivo, as relações
sociais e, sobretudo, o Direito.
O que faço? Não tenho mais o “senso comum teórico dos
juristas” e também não tenho mais freios no meu modo de pensar criticamente
o mundo e o Direito. “Lampião” acabou com eles com um tiro de
“parabellum” e uma punhalada com punhal de prata. Agora, sem minhas
“defesas”, que imaginava poderosas, sou como um morto... Estou morto.
Na verdade, estou morto e renascido livre ao mesmo tempo. Vejo, de um
lado, meu corpo morto e meu pensar antigo e, de outro lado, sinto-me renascido
em outro corpo e outro pensar. Morri para nascer de novo. Agora, nascido de
novo, posso pensar diferente; posso pensar um novo Direito e, por fim, posso
pensar que a Justiça é possível e que pode ser construída pelo homem novo. Está
certo Gilberto Gil. É preciso “morrer para germinar.” “Lampião” me
matou para que eu pudesse viver e ver. Viva
“Lampião”!
E vivendo depois da morte, vejo, agora, com “Lampião” ao meu
lado, que aquele antigo modo de pensar, na verdade, foi o fruto do ensino
jurídico que incute verdades e dogmas na mente de acadêmicos de Direito, que se
tornam advogados, que se tornam juízes, que se tornam desembargadores, que se
tornam ministros de tribunais e se imaginam sábios porque aprenderam a reduzir o
Direito à lei e a Justiça à vontade da classe que representam. Este é o Direito
limitado aos “autos” do processo e à tarefa de manter excluídos da
dignidade os pobres e miseráveis; o Direito da manutenção da falsa “ordem”
burguesa; o Direito alheio à vida, à pobreza, à miséria e à
fome.
Posso ver agora, com “Lampião” ao meu lado, que aquele modo
antigo de pensar aprisiona e mutila os fatos nos “autos” do processo.
Assim, “autos” não tem vida, não estão no mundo, não tem contradições
sociais e transformam homens em “delinqüentes”, “meliantes” e
“bandidos”. Reduz, pois, todas as contradições do mundo e da vida em uma
tolice: “o que não está no processo não está no mundo.”
Agora posso ver, com “Lampião” ao meu lado, depois de ter
morrido para viver, ver e violar dogmas, que “o mundo está no processo”.
É, pois, no processo que está a desigualdade social, a concentração de renda,
séculos de latifúndio, a acumulação da riqueza nacional nas mãos de uns poucos,
preconceitos, discriminações e exclusão social. Tudo isso é e está no processo.
Isto é o processo.
Vejo, por fim, compartilhando esta última visão com “Lampião”,
que os autos que me apresentaram não tem mundo e nem vida. Não tem sua vida,
“Lampião”. Não tem sua história. Não tem seu passado. Não tem sua
família. Não tem seus pais e irmãos sendo expulsos da terra que cultivavam. Não
tem sua dor e sua revolta. Não tem sua sede e fome de justiça. Não tem sua
desesperança na justiça. Não tem sua vida, repito. Não tem nada e de nada servem
esses autos. Não servem para um julgamento. Servem para justificar uma farsa,
acalentar os hipócritas e fazer da mentira a verdade.
Esses “autos” que me apresentaram, “Lampião”, não tem
índios escravizados e mortos pelo colonizador; negros desterrados e escravizados
nesta terra; posseiros expulsos de suas terras e mortos pelo latifúndio;
operários explorados, desempregados e desesperados; crianças dormindo ao
relento; os sem-teto, os sem-terra, os excluídos da dignidade. Esses autos não
estão no mundo, é um faz-de-conta, uma ilusão...
O que faço agora? Estou morto de um lado, mas vivo de outro. Não sei
mais o que é virtual e o que é real. Sei que deliro, mas não posso deixar morrer
este novo eu. Preciso fazer com que permaneça vivo em mim o que renasceu e
deixar morto o que morreu. Não quero ser mais o que era antes de morrer. Quero
ser apenas o que renasci.
Luto comigo mesmo e permaneço vivo. Estou vivo, escuto e vejo, agora,
mais uma vez, tiros de “parabellum” e golpes de punhal, como se saídos do
nada e bailando no ar, furando e cortando em pedaços os “autos” do
processo. Agora, não existem mais os “autos” do processo. Papéis picados
tremulam no ar. Voam descompassados como borboletas... Preciso manter a lucidez,
mas agora é tarde. A loucura tomou conta de mim e me levou com as borboletas
para as “lagoas encantadas” do sertão brasileiro. Agora sou pura utopia,
sonho e liberdade. Converso com “mães-d’água” à beira da “lagoa” e
todas as coisas agora fazem parte de tudo. Nada mais é sem as outras coisas.
Somos todos partes de um todo...
Neste devaneio em que me encontro, não sei mais o que é o real, o que
é verdade, o que é passado ou presente ou se estou morto ou vivo; não sei mais -
ou sei? - o que é e para que serve o Direito. Delirando assim, não posso mais
julgar. Estou impedido de julgar. Não posso mais julgar Lampião. Eu não sou mais
real, sou sonho apenas. “Lampião”, também, não é mais real. É uma lenda,
um mito. “Lampião” agora povoa o imaginário dos pobres do sertão.
“Lampião” não pode ser mais julgado por um juiz apenas. Só a história e o
povo podem julgá-lo agora.
Esperem! “Lampião” me foi apresentado preso e eu preciso
decidir sobre o flagrante. Preciso voltar... As borboletas me trazem de volta da
“lagoa encantada” em que me encantei. Sou novamente real neste mundo
virtual. Aqui estou e preciso falar. Assim, enquanto a história não vem, mas
inevitavelmente virá um dia, não posso deixar “Lampião” encarcerado. A
cadeia não serve aos valentes e aos destemidos; a cadeia não serve aos que, como
Marighella, nunca tiveram tempo para ter medo; a cadeia não serve aos que não
tem Senhor e aos que amam a liberdade. Homens verdadeiros não morrem presos.
Portanto, “Lampião”, a liberdade é tua sina. Vá. Talvez Maria
te espere ainda. Talvez teu bando te espere ainda. Talvez Corisco não precise te
vingar. Talvez teu corpo não trema por mais de dois minutos depois que degolarem
tua cabeça. Vá. É melhor, na verdade, que morra em combate com a
“volante” do Tenente Bezerra do que apodrecer e morrer vivo na prisão. Os
valentes morrem lutando e escrevem a história. Vá. É a história, somente ela,
que tem a autoridade para lhe julgar.
Por fim, agora concluo minha decisão inacabada: “expeça-se o
Alvará de Soltura e entregue-se o acusado, Virgulino Ferreira da Silva,
“Lampião”, ao seu próprio destino.” Dato e assino: Gerivaldo Alves Neiva,
Juiz de Direito.
Depois disso, as borboletas me levaram de volta ao mundo da paz, da
harmonia e da solidariedade, onde somos todos iguais e irmãos; de volta às
“lagoas encantadas” do sertão brasileiro e aos braços das “mães
d’água”.
Com viram, ouviram e imaginaram, este julgamento é um devaneio.
Mistura de imaginação, passado e presente, sonho, utopia e, sobretudo, esperança
inquebrantável na Justiça.
Uma noite fria e chuvosa, agosto, 2010.
Gerivaldo Alves Neiva
Juiz
de Direito
sábado, 2 de fevereiro de 2013
O déficit permanente de moradia
Organizações apontam que Minha Casa, Minha Vida está longe de zerar o déficit
habitacional e promover o acesso dos trabalhadores mais pobres às áreas
centrais das cidades
17/01/2013
Aline
Scarso,
da
Redação
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Passados dez anos
da administração do Partido dos Trabalhadores (PT) no governo federal, os
movimentos sociais ligados à luta pela moradia não escondem mais a decepção em
torno do atendimento de demandas ligadas à habitação popular. O déficit de casas
no Brasil ainda continua alto, em torno de 8 milhões de moradias, segundo
pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A maior parte dos
trabalhadores sem casa própria – cerca de 90% – recebem como renda mensal de
zero a três salários mínimos. O programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) –
considerado pelos movimentos a principal política do governo para responder à
demanda – ainda é deficitário para eles. Os recursos disponibilizados são baixos
(cerca de R$ 65 mil), os preços dos terrenos são altos e a relação com o banco
é difícil. Articulações políticas do governo com o Partido Progressista (PP),
que não tem tradição na promoção políticas de moradia e desde 2005 ocupa o
Ministério das Cidades, também sinalizam que muitas lutas ainda deverão se
travadas para que as famílias sem-teto tenham o direito constitucional
garantido.
Na avaliação do
coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos,
se, por um lado, o MCMV é o maior programa habitacional do país desde o Banco
Nacional da Habitação (BNH) e incorpora a histórica reivindicação de subsídios
aos trabalhadores sem-teto, por outro lado,
o governo entregou
a política pública de habitação ao mercado. “Dos R$ 34 bilhões da primeira
versão do programa, R$33 bi foram repassados para as construtoras. Além disso,
são as construtoras que definem o terreno e a localização do empreendimento. Não
deixa de ser uma privatização das diretrizes de política habitacional”, afirma.
Salto
O programa Minha
Casa, Minha Vida surgiu em 2009 como uma resposta do Executivo ao impacto da
crise econômica internacional no Brasil. Conforme lembra Raimundo Bonfim,
coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP) – entidade que
agrega várias entidades que lutam por moradia popular – a produção de casas a
partir do MCMV continua empregando um contingente de mão de obra, aquecendo a
cadeia produtiva da construção civil e estimulando a economia como
um todo. Segundo ele, apesar de se localizar num contexto de combate à crise,
esse é o principal programa de moradia popular do país em termos de volume de
recursos e de empenho da máquina federal. “Até 2014, pode ser possível
contabilizar a construção de 3,4 milhões de novas moradias subsidiadas pelos
governos do PT– entre imóveis entregues e projetos contratados. É um salto de
quantidade”, destaca.
No entanto, além de
não zerar o déficit, o preço da terra em grandes centros urbanos como Belo
Horizonte (MG), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) é um impeditivo para que o
programa avance também em termos qualitativos. Na cidade de São Paulo, por
exemplo, o MCMV é praticamente inacessível para trabalhadores de baixa renda
que queiram morar no centro, onde os serviços públicos e a infraestrutura estão
consolidados. “Para resolver o déficit é preciso tocar na questão da terra
urbana. Hoje, o que mais se ouve no governo é: tem recurso para a construção,
mas com o valor da terra não fecha a conta. E, de fato, com a ausência de uma
política de desapropriação, os especuladores detêm o poder, com terras
griladas, muitas vezes. Se não se enfrenta esta elite patrimonialista, não se
resolve o problema”, defende Boulos.
Para Bonfim, a saída
é a concessão de terrenos pelas administrações municipais para a construção de
casas a partir do MCMV. “Mesmo se a administração municipal priorizar a
construção de habitação popular há o problema do preço da terra. Financiamento
de R$ 65 mil na cidade de São Paulo é muito pouco. O governo estadual
disponibiliza um aporte de R$ 20 mil, então, com isso, chega-se a R$ 85 mil o
financiamento. Se a Prefeitura desapropriar terrenos, que são os grandes vilões
dos preços, a gente consegue deslanchar com um programa de habitação popular”.
Outro ponto
defendido por ele é estabelecer imposto progressivo para proprietários de
imóveis que não cumprem função social e criar uma empresa pública de construção
civil que contrate, por meio de concurso público, pedreiros, arquitetos e
engenheiros.
Já para Luiz Carlos
Prates, o Mancha, secretário executivo da Central Sindical e Popular Conlutas,
a saída é fazer uma ampla reforma urbana, com expropriação de terrenos
utilizados para a especulação imobiliária e a organização de grandes obras
públicas para a construção de casas populares. “Os movimentos sociais deveriam
aproveitar que existe uma vontade de mudança na política habitacional por parte
da população e ampliar a mobilização dos trabalhadores para esse fim”, destaca.
A proposta do coordenador-geral do Movimento de
Moradia da Região Central (MMRC), Nelson da Cruz Souza, é de que o governo
enfrente os interesses dos empresários ligados ao mercado imobiliário. “O
governo tem que ser ousado, e promover expropriações de terrenos, muitas vezes
grilados por magnatas. Além disso, os governos municipal, estadual e federal
têm que parar de rixas, e começar a trabalhar em conjunto. É o povo que sofre
quando não acontece isso”, ressalta.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/11604
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
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