terça-feira, 3 de março de 2015

OU OS SETORES POPULARES SE MOBILIZAM OU VIVEREMOS GRAVES RETROCESSOS

A eleição de Eduardo Cunha (PMDB/RJ) para a presidência da Câmara é a vitória da política como negócio, do clientelismo como método de conquistar mandatos, da cristalização dos interesses das grandes corporações sobre o sistema partidário nacional. Vitória da força da pequena política, de ‘resultados’, que se viabilizou com a contribuição da total desagregação da base governista. Ela está mais dispersa do que nunca, em disputa aberta e sempre rebaixada por nacos do Orçamento, cargos no Executivo e na própria estrutura da Casa.
O cenário é de avanço das propostas dos ruralistas, como a PEC 215, que afeta direitos indígenas, quilombolas e ambientais, e do modelo político dominante, como a “PEC Vaccarezza”, a 352, que constitucionaliza o financiamento empresarial de campanhas e elimina partidos pequenos e médios. Ou seja, abre-se uma quadra em que ou os setores populares se mobilizam ou viveremos graves retrocessos. A montagem do poder interno no Congresso também visa criar uma ‘barreira de contenção’ às denúncias de corrupção, a fim de preservar mandatos.
(...) Acredito que haverá reação popular e manifestações como em 2013. Não necessariamente com as mesmas multidões, mas com mais nitidez, com pautas mais objetivas, menos diversas e dispersas. Mas será preciso sintonia fina para separar manobras golpistas, reacionárias, do clamor contra desmandos do governo, que, por sua origem e discurso, não tinha o direito de fazer o que fez com a Petrobras. Dizer, como os governistas repetem, que há também ‘trensalão’ ou que o propinoduto na nossa empresa de petróleo é antigo, desde FHC, não justifica nada: apenas iguala os antigos e os noviços serviçais do Capital e das grandes empreiteiras.
É urgente construir uma plataforma mínima de lutas, pela via da articulação, já embrionária, de uma Frente pelas Reformas Populares. É urgente construir uma pauta comum, democrática e republicana, com o nosso tom para as Reformas Política, Tributária e Urbana. Contra o financiamento privado, a taxação do salário, e não do capital, a proteção jurídica à especulação imobiliária, entre outros. Além, é claro, do enfrentamento da crise hídrica de maneira estrutural, com medidas não só de curto prazo.

Chico Alencar - Deputado Federal PSOL