quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Mobilidade urbana: o que Curitiba (ainda) tem para ensinar?


Terminou no dia 10 de abril, em Curitiba, o Seminário Internacional de Uso do Automóvel na Cidade. O porquê de Curitiba ter sido escolhida para sediar o evento é uma boa questão. Deve ser pelo famoso BRT, desenvolvido e implantado na década de 70, copiado e amado pelo mundo. Interessante que um dos exemplos apresentados foi o seu uso em Buenos Aires (Argentina), mas o que realmente temos para mostrar desde o quase cinquentenário BRT? Curitiba está acabando com a integração do transporte metropolitano, vem insistindo em ciclovias mal projetadas e refeitas em tempo recorde com dinheiro público.
Durante o seminário, o que se viu foi nada mais que a repetição de chavões sobre mobilidade urbana. Compararam o nosso transporte público com o de cidades como Tóquio, Paris e Londres. Será que é possível fazer esta comparação? Nessas cidades há sistema de metrô e integração, além da educação cultural. De qualquer forma, eles também têm hora de rush, congestionamentos e as limitações impostas pelos veículos.
Porém, mesmo que essas cidades não fizessem mais nada para melhorar os seus sistemas de transporte coletivo, o Brasil demoraria mais de 100 anos para se equiparar a eles. Por aqui, além da questão cultural, do atraso em relação aos países desenvolvidos, ainda temos de lidar com a gestão pública, a burocracia e a corrupção.
A mobilidade urbana de Curitiba e do Brasil deve ser pensada a partir das pessoas. Precisamos refletir se abriríamos mão da nossa individualidade e do nosso conforto para andar de metrô, ônibus ou qualquer outro transporte coletivo. Quando paramos para analisar a precariedade e a superlotação do transporte público nos horários de pico, com certeza optamos pelo uso do carro, sua liberdade e sua autonomia.
Seguimos no campo das ideias, sem a parte prática para resolver um problema que a cada dia fica maior

Portanto, a solução da mobilidade urbana passa necessariamente por uma visão integrada ou pela oferta de soluções integradas, e especialmente sem o controle total do sistema pelo governo.
Por natureza e culturalmente, tornamo-nos individualistas, pouco ou quase nada preocupados com o coletivo, focados nas nossas próprias necessidades e prioridades. Esse papo de conscientização ajuda, é claro, mas não é determinante, pois, se consciência resolvesse algo, ninguém fumava ou bebia, pois todos temos consciência de que faz mal.
Não podemos seguir pelo caminho contrário, pois Curitiba necessita cada vez mais de um sistema de transporte coletivo integrado com uso ampliado para toda a região metropolitana. Vamos além: precisamos de um sistema de transporte individual, com pequenos automóveis urbanos para uma pessoa, econômicos e baratos, para atender àqueles que não abrem mão do conforto e da individualidade.
Outra solução prática passa pela implantação de um sistema de transporte alternativo, com vans para levar e pegar as pessoas por regiões, a exemplo do transporte escolar. Temos ainda o uso de sistemas de carona, que deve ser incentivado.
E que tal a implantação de um sistema de transporte individual, do tipo motorista particular, controlado por sistemas informatizados e a preços competitivos, liberados para outros operadores que não sejam apenas os táxis oficiais?
Para aumentar a polêmica sobre o tema, acredito que o caminho não está nas ciclovias (assunto tão aclamado ultimamente). É claro que devemos ter espaço para essa modalidade, mas precisamos ter a noção das distâncias que as pessoas precisam percorrer e do clima de Curitiba (vale ressaltar que nos últimos anos tivemos cerca de 160 dias de chuva!).
Discussões práticas como estas, no entanto, não fizeram parte do Seminário. A única novidade apresentada foi o lançamento de um prêmio para ideias sustentáveis. E assim seguimos no campo das ideias, sem a parte prática para resolver um problema que a cada dia fica maior.
Ademar Batista Pereira, educador, é diretor da Escola Atuação.

Fonte: Gazeta do Povo

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