quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Caso Acioli: declaração polêmica marca depoimentos



Por: Guilherme Bernard e Priscilla Aguiar 30/01/2013
Coronel Mário Sérgio Duarte, comandante-geral da PM na época do assassinato, faz críticas às investigações no julgamento de policiais acusados de matar a juíza

O primeiro dia do julgamento de mais três policiais militares acusados de participar do assassinato da juíza Patrícia Acioli, morta com 21 tiros em agosto de 2011, quando chegava de carro a sua casa, em Piratininga, Niterói, foi marcado pelo depoimento do ex-comandante da PM Mário Sérgio Duarte, que provocou revolta entre os promotores.
O militar criticou a investigação feita pela Polícia Civil argumentando que os depoimentos colhidos com o benefício da delação  premiada são inconsistentes.  
Ele disse ainda que a morte da juíza pôs fim a sua carreira. Mário Sérgio  acabou exonerado após o crime, pelo fato de ter indicado meses antes para o comando do Batalhão de São Gonçalo, o tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, também acusado do assassinato da magistrada.
“Fiquei interessado no processo porque esse crime encerrou a minha carreira. Saíram todos os coronéis da minha equipe, aqueles que participaram do processo de pacificação, todos foram retirados de seus postos antes dos 40 anos de idade”, declarou, acrescentando que a investigação tomou um caráter “literário persuasivo”.
“Observei nos depoimentos, principalmente relativos à delação premiada, que em alguns momentos as informações são contraditórias dentro do próprio depoimento...Eles são inconsistentes quando falam do espólio do crime e do valor, por exemplo”, afirmou, sendo interrompido pelo promotor Leandro Navega.
“Como ex-comandante da PM, o senhor deveria se envergonhar”. Outro promotor, Rubem Viana, também se irritou. “Isso é um absurdo. Uma testemunha vir aqui fazer juízo de valor sobre a investigação da Policia Civil. Jamais vi isso no Tribunal”. O  juiz Peterson Simão - que preside o julgamento - precisou intervir para acalmar os ânimos. No fim do depoime nto, o coronel Mário Sérgio precisou ser atendido por uma equipe médica de plantão no fórum, com sintomas de pressão alta.
O julgamento está sendo realizado no 3º Tribunal do Júri de Niterói. Os réus são os policiais militares Jefferson de Araujo Miranda, Júnior Cezar de Medeiros, e Jovanis Falcão Junior. Eles respondem por homicídio triplamente qualificado e formação de quadrilha, cuja pena pode chegar a 30 anos de prisão.
Segurança – O aparato policial montado para o julgamento contou com quase 60 homens, sendo 26 policiais lotados no judiciário e os demais cedidos pelos batalhões de Choque, de Niterói e de São Gonçalo, além de agentes da Coordenadoria de Recursows Especiais da Polícia Civil (Core), que ficaram responsáveis pela segurança e transporte dos sete jurados.
Depoimentos – Réu confesso e condenado em dezembro passado pelo crime, o cabo PM Sergio Costa Júnior foi o primeiro a  responder à depor. Ele defendeu o soldado Júnior Cezar de Medeiros, afirmando que ele não havia sido comunicado sobre o atentado contra a juíza. “Ele não sabia do plano de matar a juíza nem na primeira, nem na segunda tentativa”.
O segundo a depor foi o ex-titular da Divisão de Homicídios do Rio, delegado Felipe Ettore. Ele disse que Jefferson de Araújo Miranda deve ter voltado atrás na sua decisão de aceitar delação premiada,  por ter sido ameaçado. “É um grupo extremamente perigoso”, declarou. Na terça-feira, o promotor Leandro Navega informou ainda que oferecerá novamente a delação premiada a Jefferson.
O ex-chefe de investigação da DH, José Carlos Guimarães também foi ouvido. Segundo ele, os réus - que integravam o Grupamento Tático Especial (GAT) do Batalhão de São Gonçalo fazem parte de um “grupo de extermínio” conhecido como “Bonde dos Neuróticos”, que seria chefiado pelo  tenente Daniel Benitez, mais um acusado do crime que ainda será julgado.
“Daniel sugeriu que o bonde chefiado por ele matasse a juíza Patrícia Acioli ou o inspetor Ricardo Henrique Moreira [que investigava o grupo e também depôs ontem]. Mas o bando decidiu assassinar a juíza por ela ser mais importante e por ser quem realmente condenava os policiais”.
Ao todo 19 testemunhas, sendo oito de acusação e 11 de defesa, estão sendo ouvidas neste segundo julgamento, com previsão para se estender até amanhã.
Mãe de Acioli assiste julgamento da primeira fila- A família de Patrícia Acioli está confiante na condenação dos três réus. A mãe dela, Marli Acioli, chegou de bengala e amparada por parentes. Ela assistiu ao julgamento na primeira fila. “Não temos a menor sombra de dúvidas de que eles serão condenados. As provas são mais do que suficientes para isso aconteça”, disse o primo da juíza, Humberto Lourival. Simone Acioli, irmã da magistrada, resumiu o sofrimento da família. “É muito doloroso para toda família estar aqui”.

O FLUMINENSE

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