sábado, 1 de outubro de 2011

Fronteiras Abertas da América Latina

27/09/2011

Por Rafael Balseiro Zin
Quando centenas de sociólogos e pesquisadores de diversas áreas das ciências humanas de toda a América Latina se reúnem para debater uma série de estudos e pensamentos críticos a respeito daquilo que nos configura enquanto “nós”, o que se pode esperar? Pois foi justamente o que ocorreu entre os dias 06 e 11 de setembro, no campus da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, em Recife, durante o XXVIII Congresso Internacional da Associação Latino-Americano de Sociologia – ALAS.
Criada em 1951, a ALAS completou 60 anos de trabalho ininterrupto em 2011. Ao longo desse período, constituiu-se como uma das maiores referências para o pensamento crítico latino-americano. E é com esse espírito que a ALAS adentra o século XXI entendendo que este se apresenta como um grande desafio para a América Latina, enquanto agente transformadora e de suma importância para a contribuição e para a organização de um planeta “mais equitativo, justo e plural”.
A compreensão do significado da América Latina na atual conjuntura política, econômica e social não é tarefa simples e convida à reflexão a comunidade de pensadores sociais ao lhes propor revisões de seus paradigmas. Todo o esforço, portanto, se dá na busca pela superação dos conceitos que historicamente são pautados por atavismos nocionais que pouco ajudam à compreensão dos processos híbridos, das liminaridades, das tensões, das fronteiras ou mesmo das criações que têm seu lugar em um continente que não se explica unicamente por meio das velhas certezas secularmente consagradas.
Com essa convicção, no primeiro dia de trabalho, teve destaque na programação a conferência de abertura proferida pelo sociólogo e cientista político Emir Sader, com o tema “Pensamento crítico e hegemonia alternativa” e uma celebração aos 40 anos do Movimento Armorial, com uma homenagem ao ilustre Ariano Suassuna, realizada pelo governador de Pernambuco Eduardo Campos.
O evento reuniu em Recife grandes nomes da sociologia latino-americana. Entre eles destacam-se críticos como Nora Garita (Costa Rica), Luis Tapia (Bolívia), Ines Izaguirre (Argentina) e Raquel Sosa (México). Mais de 6000 resumos de pesquisas foram inscritos nos 28 eixos temáticos dos Grupos de Trabalho. Durante a programação ocorreram também diversas conferências, entre outras atividades, tais como mesas-redondas, fóruns, lançamentos de livros e mostras culturais. Durante os cinco dias de congresso, aconteceram de 7 conferências internacionais, 48 mesas-redondas, mais de 4.500 apresentações de trabalhos individuais, além de 5 mostras de filmes e 20 fóruns planetários.
Levando em consideração que a América Latina está cada vez mais imersa nesse cenário de grandes mudanças do Século XXI, pode-se afirmar que a ALAS assume um papel de destaque nesse debate na medida em que sua tradição constitui o próprio aval necessário para se promover o novo pensamento crítico nas diversas linhas de ação e reflexão.
Como sugere a organização da entidade, ainda há muito que se fazer para nos percebermos como “nós”, latinos, e favorecer a ampliação do leque de atores e pesquisadores que interrogam a América Latina. Há desafios importantes para se avançar numa práxis teórica renovadora que articule o pensamento e a ação, que coordene as instituições sociais, políticas, culturais, artísticas, econômicas e jurídicas com vistas à produção de um pensamento democrático e plural contemplando o local, o nacional, o pós-nacional, transnacional e suas metamorfoses.

Rafael Balseiro Zin é estudante de Sociologia e Política na Escola de Sociologia e Política de São Paulo e pesquisa as dissonâncias, ressonâncias e reverberações entre as diversas políticas culturais nacionais, regionais e locais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário