quinta-feira, 3 de maio de 2012

Retratos do progresso – Insatisfação toma conta do Comperj


Tensão e incerteza. Essas podem ser as palavras básicas para definir o clima que tomou conta dos canteiros de obras do Comperj, em Itaboraí. O maior empreendimento do Brasil, com investimentos superiores a R$ 14 bilhões, tem merecido destaque na mídia por conta de denúncias inimagináveis para uma obra deste porte: falta de alojamentos adequados, alimentação ruim, descumprimento de “baixas de campo” (folga a trabalhadores de outros estados), salários desiguais para mesmas funções e agenciamento pelos chamados “gatos”, comuns nos flagrantes de trabalho escravo na zona rural, como mostra matéria publicada no jornal O Globo.

Por conta dos desmandos e da falta de entendimento, que têm gerado um clima de instabilidade, a presidente Dilma Rousseff e a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster decidiram demitir três diretores da estatal, na última quarta-feira (25/04). O Secretário de Desenvolvimento do Estado do Rio, Júlio Bueno, afirmou que as obras do Comperj custarão mais que o dobro do previsto, o que gerou uma denúncia no Ministério Público por parte do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ).

Os trabalhadores estão em greve por melhores condições de trabalho, salários dignos e alimentação adequada. Não é a primeira vez que cruzam os braços este ano. Pelo contrário, a categoria vem promovendo sucessivas paralisações, sempre acompanhadas de manifestações junto à população, como caminhadas pelas ruas principais do município. Mas nada parece sensibilizar a classe patronal e os acordos nunca chegam a um denominador comum.

A exemplo de outros empreendimentos de grande porte, o Comperj atraiu para Itaboraí oprários dos mais diversos pontos do país. Essas pessoas chegaram ao município e tiveram que se instalar por conta própria, segundo relatos. Muitos são obrigados a viver em cidades vizinhas. Enquanto isso, os itaboraienses, sem qualificação ou experiência, continuam sem trabalho. Na porta do Sine, as reclamações são sempre as mesmas, com muita gente em busca de oportunidade, mas com poucas possibilidades de aproveitamento. Confira, no trecho abaixo, publicado em O Globo:
Segundo Luiz Augusto Rodrigues, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Construção, Montagem, Manutenção e Mobiliário de São Gonçalo, Itaboraí e Região (Sinticom), os funcionários chamados por “gatos” — como são chamados os agenciados de mão de obra — são maioria nas obras do Comperj.

— As empreiteiras preferem gente treinada, acostumada com trabalho pesado, e trouxeram muita gente de fora para a obra. Essas pessoas estão tendo uma série de direitos desrespeitados, o que gera insatisfação e tensão — diz Rodrigues.

Na verdade, a cidade continua inchando, com a violência aumentando e o sossego indo embora. Não bastasse a vinda de centenas de trabalhadores de fora até do estado, a instalação de UPPs no Rio de Janeiro provoca a migração de traficantes para a cidade, o que piora bastante a falta de segurança. Basta ler as manchetes de jornais locais para constatar a veracidade da frase dita, recentemente, pelo delegado titular da 71 DP, Wellington Vieira: “ A cidade virou um barril de pólvora”.

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