quarta-feira, 24 de agosto de 2011

21 tiros no peito da Justiça

 “Parecia fogos de artifícios”, disse assustada uma vizinha da juíza Patrícia Acioli ao ouvir o tiroteio. Ela ainda não sabia que às 23h30, da última quinta-feira (11), em frente à casa de dois andares, de fachada simples, na Rua dos Corais, em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói, um crime abalaria as entranhas de um poderes mais nobres do país. Os 21 tiros que mataram Acioli acertaram em cheio o ‘peito’ do Judiciário.

Considerada juíza do ‘martelo pesado’ por sua conduta rigorosa contra as injustiças, o corpo caído dentro do Fiat Idea Adventure era o retrato de um crime anunciado. Acioli não teve tempo de reagir. Dois criminosos encapuzados teriam feito os disparos. Duas motos e dois carros davam cobertura. O bando fugiu deixando um rastro de dúvidas e a pergunta: alguém pode calar a Justiça?
Após o crime, o filho da juíza, em prantos, quebrou o vidro do carro com uma pedra na tentativa de socorrer a mãe. Patrícia morreu nos braços do adolescente. Morreu nos braços de todas as vítimas de crimes que ela ajudou a desvendar e punir os culpados.

Correria, gritos e lamúrias. Após a morte de Acioli, o bucólico conjunto residencial Jardim Imbuí, no Timbau, em Piratininga, entra para história do país: foi o primeiro assassinato de um juiz criminal em 260 anos, no país.
Patrícia Acioli tinha 47 anos e 19 de magistratura. Ela deixa três filhos. Após o crime, centenas de policiais civis e militares seguiram para o local. A juíza foi assassinada após participar de um júri no Fórum de São Gonçalo. Sexta (12), ela participaria de uma audiência para expedir mandados de prisões contra policiais do 7º BPM (São Gonçalo) acusados de forjar um auto de resistência contra dois jovens assassinados no Complexo do Salgueiro.

De acordo com a polícia, Há indícios de Acioli ter sido alvo de uma emboscada. Segundo o Governo do Estado haverá uma rigososa apuração para averiguar o caso da juíza.

O governador Sérgio Cabral afirmou, sexta (12), que determinou à chefe da Polícia Civil, delegada Marta Rocha, todo o empenho para esclarecer o assassinato. O corpo da juíza foi enterrado, sexta (12), no Maruí, Barreto.

PF pode participar das investigações
A Polícia Federal também deve participar das investigações do assassinato da juíza Patrícia Acioli, conforme informou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Uma das exigências do ministro é que a apuração seja rigorosa, o que exige melhor estrutura para acompanhamento do caso.

O crime, ocorrido na noite de quinta-feira (11), em Piratininga, Niterói, foi encaminhado à Delegacia de Homicídios (DH) da Barra da Tijuca. O delegado titular da DH, Felipe Ettore, disse que ouviu até a tarde de ontem 10 pessoas, entre amigos, familiares, vizinhos e o namorado da magistrada, o policial militar Marcelo Poubel. “Estamos com 60% do efetivo da DH trabalhando na investigação. Já sabemos que a juíza foi atingida por 21 disparos e colhemos no veículo cápsulas de pistola calibre 40 e 45 que serão analisadas”, disse.

Ainda segundo informações da Delegacia de Homicídios, foi recolhido no local do crime um computador que pertence a associação de moradores, que teria flagrado imagens dos criminosos. “As câmeras não flagraram a ação dos marginais, mas podem ter gravado o momento em que os autores passaram próximo a uma ponte que dá acesso a rua em que vivia a magistrada”, disse um policial.

Para auxiliar no inquérito, o procurador-geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Soares Lopes, disponibilizou o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) para trabalhar em conjunto com os promotores de justiça que investigam o crime.

Ao mobilizar os membros do MP-RJ especializados no combate às organizações criminosas, o procurador-geral de Justiça busca contribuir para que inquérito seja conduzido de forma rápida, despersonalizada e com o máximo de qualidade, garantindo, assim, a punição de todos os envolvidos.

Lopes também mantém contato com a Secretaria de Segurança e a Promotoria de São Gonçalo para a adoção de todas as providências necessárias à apuração do homicídio e para garantir a segurança dos membros do MP-RJ.
“O MP-RJ está acompanhando todas as linhas de investigação para identificar os culpados o mais rápido possível”, disse Cláudio Soares Lopes.

Juíza de jeito simples e caseira
De acordo com familiares, Patrícia Acioli recebia ameaças há pelo menos 5 anos. “Ela era considerada uma juíza linha dura, martelo pesado que chamam. Condenação era sempre pena máxima, condenou gente ligada a máfia do óleo, máfia da van, milícia em São Gonçalo que estava crescendo absurdamente.
Policiais envolvidos com desvio, com corrupção, envolvimento com tráfico. Ela andava com segurança, mas há cerca de 3 anos passou a andar sem escolta. Era uma juíza que vinha relatando casos frequentes de ameaça de morte”, disse o primo da juíza, jornalista Humberto Mauro.

Simplicidade - Sobre o estilo simples de viver, familiares disseram que era uma proposta de vida. “Ela sempre foi simples. Poderia morar em condomínios de luxo. Há pouco tempo ela comprou essa casa, reformou e se mudou. Ela estava assim tão despreocupada que o carro dela não é blindado, o portão não é eletrônico, ela inclusive iria sair do carro para abrir. Foi um crime encomendado, de profissional”, lamentou.

Fonte: Jornal O São Gonçalo



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