quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Confederação dos Tamoios é massacrada há 440 anos



Por Sergio Caldieri – do Rio de Janeiro:

A Confederação dos Tamoios foi o primeiro movimento nativista brasileiro, uma reação organizada contra a ocupação dos portugueses, pois os índios eram os verdadeiros donos das terras. As propriedades passaram para a coroa e as terras dos índios foram confiscadas sem direito à indenização.
Os historiadores oficiais não devem comemorar e nem lembrar que no dia 26 de setembro de 1575, dois mil índios foram chacinados pelos soldados do governador do Rio de Janeiro, Antonio Salema.
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O historiador Edmundo Moniz considerava a Confederação dos Tamoios um dos episódios mais importantes da História do Brasil no começo da colonização européia. Foi a união de várias tribos tentando enfrentar, numa guerra contínua, aqueles que vinham tomar suas terras, suas plantações e escravizá-los.
A união das tribos da Confederação lutaram durante dois anos de batalhas contínuas, tentando evitar a permanência dos portugueses na Baía do Rio de Janeiro. Os índios tamoios se aliaram aos franceses e se estabeleceram em Cabo Frio. Em 27 de agosto de 1575, o governador Salema partiu para aldeia de Cabo Frio, com 1,1 mil soldados (400 portugueses e 700 índios aliados) e certificou-se de que os Tamoios estavam fortemente entrincheirados, com muita segurança de defesa, organizada por dois franceses e um inglês que possuíam grandes experiências militares.
Após vários ataques, sitiaram o acampamento com o objetivo de rendição dos Tamoios pela sede e fome. Graças a uma chuva, os índios resistiram mais tempo, mas Salema sentiu um silêncio inquietante na aldeia. Entre tantas crueldades de Selema, uma delas, era mandar roupas usadas pelos doentes nos hospitais para contaminá-los numa tribo na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Um jesuíta que acompanhava a expedição, Padre Baltazar Alvares, ofereceu-se para descobrir o que se passava. Houve uma negociação com chefe Iapuguaçu que, já sem muita resistência, acabou entregando os três europeus que ajudaram a construir a fortaleza. Foram sumariamente enforcados. Os soldados de Salema plantaram uma cruz no pátio da aldeia com a esperança de que os portugueses não fizessem mal a ninguém.
O chefe da aldeia não entregou os 500 guerreiros. Quando os indígenas estavam desarmados, teve o início a chacina, em 26 de setembro. Mataram 2 mil e fizeram 4 mil prisioneiros. Segundo Frei Vicente do Salvador, os cativos que quiseram receber a fé foram, por ordem de Salema, distribuídos em duas aldeias, uma nas margens do rio Macuco, hoje Itaboraí, a outra em São Lourenço, onde se instalara o índio Araribóia, local da futura Vila Real da Praia Grande, atualmente Niterói.
O padre Luiz da Fonseca contou que a mãe era separada do filho, o marido da mulher. Um era levado para São Vicente, no Estado de São Paulo, e outro para o Espírito Santo. Esta chacina ficou conhecida como a “Salemada de Cabo Frio”, relembra Demócrito Jonathas Azevedo, presidente da Academia Cabofriense de Letras. O propósito era de destruir impiedosamente a Confederação dos Tamoios, aniquilando-a de forma tal que se tornasse impossível seu reagrupamento. Foi o desaparecimento definitivo de uma nação, cuja população indígena lutou até o fim pela sua independência.
Não se deve esquecer que, antes dos Tamoios serem massacrados em Cabo Frio, no dia de São Sebastião, 20 de Janeiro, Estácio de Sá travou uma batalha com grande número de soldados dando vitória aos lusitanos, data da fundação da cidade do Rio de Janeiro. Aimbirê, o chefe tamoio, lutou até o último momento. Iguaçu, sua mulher, não quis deixá-lo e foi atingida no peito, morrendo fulminada. Aimbirê prossegue na luta e ao encontrar-se com Estácio de Sá atinge-o com uma flecha envenenada. Aimbirê foi intencionalmente relegado ao esquecimento, mas Estácio de Sá sempre será lembrado, alçado  à condição de fundador da cidade, com monumento no Aterro do Flamengo, praça, rua, escola,  bairro, música, escola de samba e até faculdade.
Recentemente, o pesquisador português João Marques Lopes (professor de literaturas lusófonas na Universidade de Oslo, na Dinamarca), descobriu uma crônica inédita do consagrado Lima Barreto, escrita em 1907: Pelo menos não tenho notícia que Lisboa festejasse retumbantemente Antonio Salema, que, aí pelos fins de Quinhentos matou dez mil índios perto de Cabo Frio.
Gonçalves de Magalhães escreveu A Confederação dos Tamoios, em 1856, e é considerado o maior poema épico da literatura brasileira. O livro foi reeditado depois de 138 anos, na gestão de Edmundo Moniz, na Secretaria Estadual de Cultura, em 1994.
Quando morou em Paris, o diplomata Gonçalves de Magalhães editou a revista Nichteroy com Araujo Porto-Alegre e Torres Homem. Escreveu a peça teatral Antonio José ou O Poeta da Inquisição, em 1838, que foi encenada pelo consagrado ator João Caetano, nascido em Itaboraí, e fez muito sucesso no Teatro Municipal de Niterói.
Gonçalves de Magalhães fazia parte do grupo de jornalistas, poetas, escritores e músicos, que frequentavam todas às tardes a Livraria de Francisco de Paula Brito, na atual Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro. Eles formavam a Sociedade Petalógica, onde Paula Brito, negro, falava francês, editava livros e o jornal Marmota Fluminense, onde Machado de Assis publicou seus primeiros poemas, em 1855.
A livraria de Francisco de Paula Brito era frequentada por José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo, Manoel Antonio de Almeida, Bernardo Guimarães, Bruno Seabra, Casimiro de Abreu, Francisco Manoel da Silva, Juvenal Galeno, Visconde de Rio Branco, Francisco Otaviano, Marquês do Paraná, Laurindo Rabelo, Barão de Itamaracá, Maciel Monteiro, Quintino Bocayuva e Antonio Gonçalves Teixeira e Souza, que saiu de Cabo Frio para trabalhar e conviver com tão ilustres escritores da literatura brasileira.
Sergio Caldieri, é jornalista e escritor, autor das obras: Alberto Cavalcanti – O Cineasta do Mundo, e Eternas Lutas de Edmundo Moniz.

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