segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Enxurrada de provas aperta cerco contra Eduardo Cunha

O deputado que nega ter contas no Exterior terá de explicar documentos enviados da Suíça ao Brasil, como cópias de seu passaporte e registros de depósitos com sua assinatura

16/10/2015 - 22h30min | Atualizada em 16/10/2015 - 23h23min

Cunha chegou a negociar um acordo com representantes do Planalto para salvar o mandatoFoto: ANDRESSA ANHOLETE / AFP

Depois de uma ascensão política que o levou do baixo clero à presidência da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) começa a ver o cerco se fechar. Alvo de dois inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal de Justiça (STF), terá de responder a uma sequência de suspeitas que o tornou um peso para governo e oposição.
Até pouco tempo, o deputado tinha apoio dos adversários da presidente Dilma Rousseff, dispostos a contar com ele para deflagrar o impeachment dela. Nas últimas horas, chegou a negociar um acordo com representantes do Palácio do Planalto para salvar o mandato, mas parece ter sido atingido por uma enxurrada.

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Nesta sexta-feira, houve torrente de fatos novos:
Documentos obtidos pela TV Globo comprovam que o peemedebista e sua mulher têm contas bancárias secretas na Suíça. A reportagem exibiu cópias do passaporte, da assinatura e de dados pessoais do presidente da Câmara. Há, por exemplo, assinatura dele em papéis relacionados à conta em nome de uma offshore, a Orion SP.
- Ao pedir o segundo inquérito contra Cunha ao STF, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apontou que ele também tem contas nos EUA, igualmente não declaradas. Cunha nega ter depósitos no Exterior desde março, quando depôs na CPI da Petrobras.
- A PGR informou ter ''indícios suficientes'' de que as contas de Cunha no estrangeiro são ''produto de crime''. O procurador-geral em exercício, Eugênio Aragão (Rodrigo Janot está em viagem aos EUA), pediu o bloqueio dos valores nos bancos suíços.
- Registros do banco Julius Baer mostram que, a partir das informações apresentadas pelo parlamentar, o banco estimou o patrimônio do cliente em um valor 37 vezes superior ao declarado à Justiça Eleitoral brasileira. Para o Julius Baer, Cunha teria bens de US$ 16 milhões (R$ 61,3 milhões). No Brasil, ele declarou ter patrimônio de R$ 1,6 milhão em 2014.
- Ao banco, o deputado solicitou que as correspondências fossem enviadas a um endereço de Nova York, nos EUA. Explicou que ¿mora em um país onde os serviços postais não são seguros¿.
- Cunha é suspeito de ter recebido propina na forma de horas de táxi aéreo. Os voos teriam sido pagos pelo lobista Julio Camargo, delator da fraude.
Jesus.Com é dona de frota de luxo
Diante de tantas acusações, uma informação chamou atenção: os advogados de Cunha pediram ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, que o inquérito aberto contra ele, mulher e uma filha tramitasse em segredo de Justiça. O pedido não foi atendido.
É por isso que se sabe da frota de carros de luxo de Cunha e sua mulher, Cláudia Cordeiro Cruz. O casal tem um Porsche Cayenne 2013, um Ford Fusion 2013 e um Ford Edge V6 2013 em nome da empresa Jesus.Com. Em seu nome, o casal tem um Corolla, outro Porsche Cayene (2010), uma caminhonete Tucson, uma caminhonete Pajero Sport, um Freelander e um BMW. No total, a frota do casal está avaliada pela Receita Federal em R$ 938 mil.

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Da negação à CPI aos documentos suíços
- No início de março, o STF derrubou o sigilo sobre a lista de Janot, título pelo qual ficou conhecido o rol de políticos apontados pelo chefe da Procuradoria-Geral da República (PGR), Rodrigo Janot, como beneficiários do esquema na Petrobras.
Entre os nomes, estava Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No final daquele mês, ele decidiu prestar depoimento à CPI da Petrobras. Na sessão, garantiu não ter contas no Exterior.
- Aos poucos, começaram a surgir indícios contra o peemedebista. Os primeiros apareceram em delações premiadas da Operação Lava-Jato. Em maio, o doleiro Alberto Youssef acusou Cunha de exigir propina na construção de navios-sonda, equipamento usado na perfuração de poços de petróleo.
- Dois meses depois, o lobista Julio Camargo confirmou o relato de Youssef.Afirmou que foi pressionado por Cunha a pagar US$ 10 milhões em propinas pelo contrato. Do total, contou o delator, Cunha disse que era ¿merecedor¿ de US$ 5 milhões.
- Em seguida, Fernando Baiano, operador do PMDB, também confirmou a propina. E o lobista João Augusto Henriques disse que fez depósito em uma conta no Exterior que tinha Cunha como beneficiário.
- Um acordo entre Brasil e Suíça permitiu a realização de pente-fino nas transações de operadores do esquema de corrupção na Petrobras no país europeu. Recentemente, o Ministério Público suíço repassou para a PGR documentos comprovando que Cunha tem contas no país.
A defesa de Cunha
Confira trechos da nota divulgada nesta sexta-feira pela assessoria de imprensa do parlamentar:

Cunha só deverá apresentar recursos a liminares do STF na segunda, diz assessoria
O presidente da Câmara nunca recebeu qualquer vantagem de qualquernatureza, de quem quer que seja, referente à Petrobras ou a qualquer outra empresa, órgão publico ou instituição do gênero.
Trata-se de uma clara perseguição movida pelo procurador-geral da República. É muito estranha essa aceleração de procedimentos às vésperas da divulgação de decisões sobre pedidos de abertura de processo de impeachment, procurando desqualificar eventuais decisões, seja de aceitação ou de rejeição, do presidente da Câmara.
Durante esse período, foram divulgados dados que deveriam, em tese, ser protegidos por sigilo, sem permitir ao presidente da Câmara o direito de ampla defesa e ao contraditório, garantido pela nossa Constituição. Essa divulgação foi feita, estranhamente, de forma ostensiva e fatiada em dias diferentes e para veículos de imprensa variados.

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